A crença de que o complexo ambiente de negócios do Brasil é um limitador intransponível para a excelência em produtividade e gestão começa a ruir diante de exemplos concretos de empresas que estão reescrevendo suas histórias. Os depoimentos de executivos no X Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas, que mergulharam na "Produtividade na Realidade das Empresas", demonstram que, sim, é plenamente possível não apenas sobreviver, mas prosperar e inovar no cenário nacional, desde que o foco seja deslocado da mera reação ao mercado para a transformação interna e estratégica.
Um dos pontos mais fortes e unânimes levantados é o papel central das pessoas como motor da produtividade, desmistificando a ideia de que a solução está apenas no investimento em máquinas de última geração. Judenor Marchioro (Robopac Brasil) é taxativo: a produtividade deve ser impulsionada pela construção de um ambiente de pertencimento e valorização dos colaboradores. A máxima "Cuidando de gente, elas cuidarão de tudo" é um poderoso lembrete de que o mindset dos executivos precisa mudar primeiro. Valorizar e investir no capital humano interno, como Marchioro sugere, transforma a força de trabalho em parceiros ativos na busca por resultados.
Essa visão se alinha perfeitamente com a experiência de Emerson Crepaldi (Solinftec), que, ao relatar a escassez de mão de obra qualificada, destaca a importância da cultura horizontal e da formação interna de talentos — 70% de sua força global de vendas é formada internamente. Isso demonstra que a retenção de pessoas, vista como um desafio "tão desafiador quanto reter clientes", é vencida pela criação de um ambiente que não só incentiva ideias de qualquer nível da empresa, mas também oferece oportunidades reais de crescimento e qualificação, tornando-se um diferencial competitivo, como reforça Marcos Müller (SCM Tecmatic), que coloca ao lado da valorização humana, a disciplina gerencial e a inovação tecnológica como pilares para a perenidade, alertando para o risco da "gestão intuitiva", que "mata uma empresa". Isso sublinha a necessidade de controle, planejamento e responsabilidade para conduzir os processos. Não se trata de abandonar a visão estratégica, mas de embasá-la em dados e método, respeitando o momento da organização.
O relato de Luiz Gustavo Kass Mwosa (DataWake) sobre como a digitalização foi crucial para a sobrevivência e expansão do negócio — criando um ecossistema que extrai inteligência em tempo real das máquinas — mostra o potencial de ganhos de eficiência que as empresas brasileiras podem alcançar ao abraçar a tecnologia. A Solinftec, por sua vez, exemplifica a automação em campo com resultados impressionantes, promovendo ganhos de até 30% em produtividade ao monitorar processos em tempo real.Os exemplos da Robopac, SCM Tecmatic, Solinftec e DataWake são inegáveis: os desafios macroeconômicos e estruturais do Brasil não são uma sentença. Eles provam que a verdadeira transformação começa dentro de casa. Ao investir em uma gestão menos intuitiva e mais disciplinada, em tecnologias que geram inteligência e, fundamentalmente, em uma cultura que valoriza e desenvolve seus colaboradores, as empresas brasileiras encontram um caminho claro para melhorar sua produtividade e competitividade.
A mensagem foi clara: o sucesso duradouro no Brasil de hoje não está apenas em contornar a crise, mas em criar uma cultura organizacional forte e orientada por pessoas e dados. As companhias que adotarem essa visão estarão não apenas se protegendo, mas construindo a base para a excelência sustentável, provando que o potencial de crescimento está ao alcance de quem tem a coragem de transformar primeiro a si mesmo.
Gino Paulucci Jr é engenheiro mecânico, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ